O julgamento – passagem

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Ele ouviu, olhou e cheirou as palavras que saíram daquela boca sedenta, com dentes que rangiam por cabelos e pele e corpo.
– É, pois então, que seja o que vier aos pés do céu e esse, bem bem bem, já não tenho condições de apontar onde está, as línguas maléficas dizem que caiu, despencou sobre o colo de moças alvas e serenas presas em furioso instante de contemplação catastrófica.
Olharam sem entender, não queriam pensar sobre isso ou aquilo. Ela não queria o peso do esforço, era demais para seus braços fracamente irrigados e já não suportava, o mundo era deveras pesado meus caros.
– Claro, olhos mudos e imútaveis, os conheço bem, já me dilaceraram por vezes. Deixo a sombra à frente, que seja, a partir de agora vou caminhar, caminhar, caminhar, caminhar, em meio a qualquer coisa, vou por aí, sem as ou bês do céu amor querida dor que acompanha esses pés cansados, já previa que amanhã o café seria em outro balcão e a manteiga um pouco mais espessa – não há problema, aprecio a variedade.
Levantou-se, afagou o blazer marrom que ganhara de presente há alguns anos (era sem dúvida seu favorito) e caminhou em direção às escadas. Parou naquele patamar e observou as ondas explodindo nos rochedos da piedade, como amava o mar e sempre admirou a força daquelas águas turbulentas que afugentavam centenas de homens, sim, pois poderia ser a última oportunidade de admirá-las – e, se fosse, que fosse. Desceu pé ante pé os velhos degraus de mármore e, aos poucos, aquela já diminuta sensação de tristeza se afastou. Ao observar o sol que raiava sem medo de coisa alguma, inspirar a intensa maresia, sentir a forte canção das ondas e contemplar o trajeto arenoso já surrado, seu coração bateu outra vez, era hora de prosseguir.
  • por Luiz Eduardo

o céu está caindo

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Feche seus olhos e veja que os céus estão caindo

desmoronando

derrubando todas as mágoas e pecados suportados por tantos e tanto tempo

e ninguém vê, não têm tempo para minimalismos

choram enquanto tudo continua a ruir, sem sorrisos ou esboços de paz e 

você pergunta com o peito cheio de emoção e calor inspirativo ” o que fazer em tempo de ódio?” 

– feche seus olhos e veja que o céu está caindo.

 

  • por Luiz Eduardo

… a relutância

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É sobre o que todos pensam e se assustam.

… a relutância que assombra o íntimo quando maléfica, fantasmas e fantasmas e fantasmas que carregamos aos ombros já cansados e feridos.

Quero caminhar e seguir por aí, por esse mundo que não pacificamente aguarda, espera, que reluta em explodir e nos arremessar aos céus e infernos por cansaço e repreensão, tantos lugares espalhados nessa bacia de água salgada que nos sustenta e balança com maremotos enfurecidos dentro de cada um de nós, e penso e tento olhar para os lados em fuga, não para as colinas, mas para mim mesmo, para o tudo e a natureza, o ser que se afugenta pelas matas e mares e pontes e ruas e planícies de Inverness e mesinhas e cafés parisienses e serras e cerrado de minas gerais…

  • por Luiz Eduardo

Volta

Sim sim sim! – soando como o sábio herói. O sentimento te quietude foi abalado, a constância coçou, o peito pulsou forte, a floresta chamou, o ser gritou alto e forte e ele sempre grita mas por vezes sem sentido ou sentidas demais, não somos capazes de escutá-lo e, bem, a estrada mais uma vez apareceu e se abriu, nunca foi embora, esteve aqui por todo o tempo mas caminhávamos paralelos, the road less traveled e quem não se lembra disso? O café não bastou, de pois não estamos cheios – esse caminho conforta e desconforta mas sempre acolhe.

Obrigado

Fim

Olá, sem enrolações ou profanações, a ansia pela escrita toma conta, nunca deixou de tomar, mas agora em outro momento outra casa outra visão – claro que não – mesmo caos dramas e horrores sentimentais da existência ingrata, mas tentando outra forma do ser do ler do pensar e viver tentando parar para sentir e respirar uma perturbação que antes passava desapercebida. Eficaz? Quem sabe. Café? Pois não.

 

Obrigado a vocês que se perderam comigo por aqui.

Pássaros

                                        Foto: Inhotim - 12/06/2011

Sim! E como por mágica, as asas se contiveram e todos, todos, todos ficaram ali, petrificados, extasiados, emoldurados
em pedra maciça e gélida, tal pintura acalentosa, de pensamento deprimente, que está, mas quer-se ir, ir, ir

e
ir
voar
ir
por céu
por ar
voar

e

seus belos passos que não são controlados.

E quem controla os passos?
E quem controla os pássaros?

  • por Luiz Eduardo

Avenida Central

Carlos a conhecera em meio a uma penumbrosa tarde de Abril. Ela parecia não parar de chorar, por minutos que pareciam horas, ele observava. Era uma mulher comum, vestindo sobretudo preto e óculoS escuros – apesar da ausência do sol. Ela estava em prantos, a pele do rosto, antes, tão clara, estava avermelhada; lágrimas escorriam por suas lindas bochechas; o cabelo estava bagunçado e com alguns fios colados na testa, por causa do suor.

Cautelosamente, ele observava o piso – visualizava as intermináveis poças d’água que se formavam ao redor dos pés daquela mulher, ”Vai se afogar, com certeza” – pensava. Fitava suas expressões, o corpo parecia desatado de sua alma, parecia uma fina casca, prestes a se romper e libertar um monstro. Os soluços e gemidos ressoavam alto por toda cidade, muitos não conseguiram dormir por dias e crianças não podiam ouvir falar da mulher que chorava na velha ponte do arco. Ela não se alimentava, não bebia, não tinha outras necessidades além de chorar e respirar, quando não aguentava. Carlos continuava ali, não sabia se estava sentado, em pé, ou em sua casa, não contava as horas, os dias, não sentia frio ou fome, não enxergava ou escutava – seu corpo funcionava em prol daquela criatura, bela e desamparada.

Todos a observavam, com expressões assustadas e desesperadoras; seu poço era profundo e as lágrimas já alcançaram sua cintura. Carlos se sentia como parte daquele triste cenário, mas algo o incomodava – aquela mulher sofrida, fraca e desamparada, era-lhe muito familiar. Além do estranhamento, pela situação, sentia muita pena, compaixão e, até mesmo, carinho, por aquela chorosa alma. Algo, porém, impedia que os dois se comunicassem. Ele não conseguia adentrar àquele círculo de lágrimas e desespero; quando gritava, por mais alto que fosse, ela parecia não lhe escutar, pois seus próprios berros e gemidos superavam o intento daquele homem. Por que ela estava ali? Por que chorava sem parar? Por que tanto sofrimento? De onde tirava tantas lágrimas? O que de tão ruim acontecera? Quem era ela? E mais, por que ELE ficava ali, dia após dia e noites em claro? Algo estava errado. Ele estava errado. Estaria amaldiçoado e, por isso, não conseguia se mover? Não – pensava – pois era capaz de caminhar para um lado e outro, porém, não conseguia… ou melhor, não QUERIA se afastar daquela mulher. O que está acontecendo? – começou a se perguntar.

Uma brisa o acariciou e, de repente, o silêncio – em sua forma mais emabaraçosa possível – reinou.

E, por vezes, assusta-nos a idéia de, simplesmente, consentir, conviver, aceitar ”sim, é isso”, ”tanto faz”, posso viver com isso”. Assusta se entregar quando devemos tomar tal atitude e, é sedutoramente cômoda, a revolta, indignação, abram alas, corra para as colinas, quando, a situação presente merece, apenas, um belo e básico, confortador, adorado e pronto, ok, agora vou relaxar, que bom que está bem.
Carlos? Bem, acho que ficou por ali, olhando, assoprando, sofrendo, com corisa, pêlos nas orelhas e gastrite, alguns sorrisos de canto de boca e suspiros apaixonados, mas nunca, nunca deixou de se indagar sobre aquela coisa, aquela idéia, aquela vaga memória que flutuava em sua mente por vezes, horas seguidas, mas que, hoje, ele já não tinha certeza. Estava ali, naquele lugar, com muitos ao seu redor, mas não se movia, os pés não saiam do chão, era maior do que ele a força estagnante; crianças, homens e mulheres, casais apaixonados e cães choravam, se assutavam e compadeciam-se com aquelas forma, cravada e enrustida nas pedras daquela, hoje, avenida central da cidade, mas, nada disso importava; em algum lugar de seu ser aquela velha fotografia se convertia em uma bela mulher e, isso, bastava.

  • por Luiz Eduardo

FIM

Sabe como é dizer ”adeus” a quem não conhece? É algo parecido com um suspiro longínquo, resbalando suas imundas orelhas peludas.

”PLAC PLAC PLAC”, palmas para você, meu caro campeão, belo, inteligente, carismático e evoluído.

– Ah, sim, muito obrigado, bem agradável de sua parte.

– Louco?

– Não, quem me dera viver, mais a fundo, tal loucura; bom, eu tenho só uma cadeira de madeira que fica embaixo do espelho e é mais confortável pra mim, analista, porque fico mais imponente e, então, você me respeita – então, aceite o desconforto.

– Ah, pois bem, como você fala bem. Sugere que saia de minha confortável cápsula, que retire meus óculos escuros embaçados, o plástico que retém o fraco e falso ar de meus pulmões? Que, praticamente, me entregue ao fim do abismo, o qual nem ao menos, considerava existir em minha bela fantasia existencial?

– Não sugiro coisa alguma, a decisão é a sua e, ao que pensa, a vida também! Faça o que quiser, pois a mim, pouco importa, já que o tempo… ah, o tempo não é, nunca foi e não será seu, ou de ninguém.

Tempo, ora e eu lá me importo com isso? – e, assim, deu as costas a si mesmo outra vez, pois não gostava de encarar aquele velho e imponente espelho do banheiro de seu quarto, todas as manhãs, após ferrar sua vida dia após noite, por não vivê-la da melhor forma possível, por sentir-se melhor e maior do que tudo e todos os seres viventes nessa realidade a qual habitamos, escondemos, cantamos, corremos, trepamos ou vivemos.

FIM.

  • por Luiz Eduardo.

Não há de quê

Tarde nebulosa

uma mente em pesquisa

a inquietação de dois amantes

a luz sobre a benção de um pai

(chá refrescante)

companhia no assento ao lado

sono cansaço tesão incontrolável

a música de pensamentos/o resbalo do vento

R$ 2,45 pelo passeio, não há de quê.

  • por Luiz Eduardo